Jovens ‘desvinculados de religião’ ultrapassam evangélicos em SP e Rio.

Em São Paulo, os jovens de 16 a 24 anos que se dizem sem religião chegam a 30% dos entrevistados, superando evangélicos (27%), católicos (24%) e outras religiões (19%), segundo nova pesquisa Datafolha

“Eu não possuo religião, sempre fui completamente dedicada a isso. Eu confio em tudo, em primeiro lugar em Jesus, o único Deus supremo. Também confio em seres, que me auxiliaram bastante e sempre estarão dispostos a me auxiliar… Tenho fé em vibrações, no cosmos…”

Assim Mariana Oliveira Viana, de 21 anos e residente no Rio de Janeiro, expressou em uma plataforma de mídia social suas convicções.

Profissional autônoma na área de manicure e residente no bairro de Irajá, localizado na Zona Norte do Rio, Mariana possui familiares que são evangélicos, uma mãe que pratica a umbanda e um irmão de 24 anos que, assim como ela, não segue uma religião específica, mas acredita em Deus.

“Minha família sempre permitiu que cada um tivesse total liberdade, ninguém questiona nada a ninguém”, relata Mariana à BBC News Brasil.

Sem ter sido batizada em nenhuma religião, a jovem frequentou terreiros e igrejas, e afirma ter se sentido bem em todos esses lugares. Dessa forma, decidiu não escolher uma religião e acreditar em tudo.

“Fui ampliando minha mente gradualmente, amadureci no sentido de ter respeito por todas as religiões e estar aberta a isso.”

Os ‘não religiosos’ no Censo e no Datafolha Mariana é uma entre milhares de jovens brasileiros que se autodefinem como “não religiosos”, grupo que já supera católicos e evangélicos entre a população de 16 a 24 anos no Rio de Janeiro e em São Paulo, de acordo com as primeiras pesquisas do Datafolha realizadas no ciclo eleitoral de 2022.

No Censo de 2010, os não religiosos representavam 8% da população brasileira, ou seja, mais de 15 milhões de pessoas. Esse percentual vem crescendo década após década: os não religiosos eram 0,5% da população brasileira em 1960, 1,6% em 1980, 4,8% em 1991 e 7,3% em 2000.

Com o adiamento do Censo populacional de 2020 para este ano, devido à pandemia, ainda não é possível determinar de forma definitiva o que ocorreu com a religiosidade no Brasil na última década.

No entanto, as pesquisas eleitorais, cujas amostras são construídas com o objetivo de refletir a realidade da população brasileira, fornecem pistas importantes nesse sentido.

As primeiras pesquisas do Datafolha em 2022, por exemplo, mostram que, em nível nacional, 49% dos entrevistados se declaram católicos, 26% evangélicos e 14% sem religião — já superando os 8% sem religião identificados no último Censo.

Entre os jovens de 16 a 24 anos, o percentual de sem religião chega a 25% em âmbito nacional.

É importante ter clareza de que apenas uma minoria dos brasileiros “sem religião” são ateus ou agnósticos. Os ateus são aqueles que não acreditam na existência de Deus, enquanto os agnósticos acreditam que não é possível afirmar com certeza se Deus existe ou não.

Regina Novaes, pesquisadora do ISER (Instituto Superior de Estudos da Religião), observa que a faixa etária dos 16 aos 24 anos, na qual os “sem religião” são mais presentes, é um período de experimentação.

“Existe um caminho de busca e experimentação que foi aberto para as novas gerações, algo que não era tão comum no passado”, afirma a pesquisadora.

Ela destaca que muitos jovens crescem atualmente em famílias com diferentes religiões, por exemplo, com avó praticante da umbanda, pai católico não praticante e mãe evangélica. Esses jovens não sentem a obrigação de seguir uma religião específica da família e tendem a buscar uma espiritualidade própria.

O Brasil pode não se tornar um país de maioria evangélica?

O crescimento dos sem religião levanta dúvidas sobre o futuro do Brasil: é possível que o país nunca chegue a ter uma maioria evangélica, como alguns analistas chegaram a prever?

Ao analisar os dados, observamos que, do Censo de 2000 para o de 2010, a porcentagem de evangélicos no Brasil saltou de 15% para 22%, enquanto os católicos diminuíram de 74% para 65%.

Na pesquisa Datafolha recente para todo o Brasil, os católicos representam 49% dos entrevistados, os evangélicos 26% e os sem religião 14%.

Embora as pesquisas não sejam diretamente comparáveis devido à diferença de abrangência, os números do Datafolha fornecem algumas pistas do que esperar para o próximo Censo.

“O declínio histórico do catolicismo continua, com a Igreja Católica perdendo fiéis a cada década. No entanto, ao mesmo tempo, não vemos um crescimento dos evangélicos na mesma proporção, e parte disso é explicado por esse fenômeno dos sem religião”, diz Fernandes, da UFRRJ.

Segundo a professora, alguns fatores explicam a perda de impulso na expansão evangélica: em primeiro lugar, as igrejas pentecostais e neopentecostais deixaram de ser uma novidade.

Um segundo fator é a diversificação da oferta dessas igrejas, o que leva a uma competição entre elas pelos fiéis, contribuindo para esse processo de experimentação característico da vivência religiosa mais fluida na contemporaneidade.

Por fim, com as igrejas evangélicas já estabelecidas há décadas no país, há uma parcela de fiéis que se decepcionou com promessas não cumpridas de curas, milagres e prosperidade, ou que não consegue se adequar às rígidas normas morais e comportamentais, engrossando as fileiras dos “sem religião”.

“Agora, a ideia é não considerar os sem religião como algo estático, porque as opções religiosas ainda existem. E o papel que a religião desempenha na vida – dando sentido a ela, tornando o sofrimento mais suportável – ainda existe. Portanto, as religiões continuam sendo recursos culturais para os sem religião”, acrescenta.

“O Brasil continuará sendo um país de maioria católica, os evangélicos ainda crescerão, mas os sem religião se tornam uma possibilidade que precisa ser observada.”

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2022/05/jovens-sem-religiao-superam-catolicos-e-evangelicos-em-sp-e-rio.html?fbclid=IwAR0E_NPpvESgTW5QgbrSp2JbzmW9hMJt9UAIZohtiEXs-LvM9p7Ac_0csJ8_aem_AdaPxzAhS6vSURhIxxtmE3A0hnrhbMJjINHHskhihafvPRYfL1eV2xTeXbT3ZezBXbM

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